Cities in Dust
23 Jan – 4 Sep 2020
Abertura
23 Jan, 18h–21h
Carpintaria
Rua Jardim Botânico 971,
Rio de Janeiro
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Bárbara Wagner | Barrão | Carlos Bevilacqua | Cerith Wyn Evans | Damián Ortega | Franz Ackermann | Iran do Espírito Santo | Leda Catunda | Lucia Laguna | Luiz Zerbini | Mauro Restiffe | Rivane Neuenschwander | Rodrigo Cass | Rodrigo Matheus | Sarah Morris
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A Carpintaria tem o prazer de apresentar a coletiva de verão Cities in Dust. O título é aqui emprestado da música lançada em 1985 pela banda inglesa Siouxsie and the Banshees. A mostra inclui obras do acervo que compartilham um interesse na morfologia do urbano e seus fenômenos contemporâneos. São fotografias, pinturas e esculturas de 15 artistas representados pela Fortes D’Aloia & Gabriel.
Enquanto a canção descreve a destruição da cidade de Pompéia pelo vulcão do monte Vesúvio causada por fenômenos naturais em 79 a.C., nossa era é caracterizada pelo ser humano como principal fomentador de catástrofes. Acadêmicos como Eduardo Viveiros de Castro denominaram tal período como Antropoceno. Alguns milênios antes, em terras brasileiras, animais como preguiças gigantes escavavam paleotocas, túneis que serviam como abrigos subterrâneos; o termo titula a escultura de resina de Barrão com moldes recortados de papelão, madeira e uma possível caixa de ferramentas: abrigos temporários para utensílios rotineiros. Carlos Bevilacqua nos faz voltar ao presente. A tensão constante entre passado e futuro é o fio condutor de Paletas e Fantasmas: objetos são ressignificados de seu uso comum, explicitando a fragilidade de um equilíbrio arquitetônico.
Iran do Espírito Santo, que há mais de vinte anos transforma objetos corriqueiros e industriais em totens contemplativos, participa com Quatro Lâmpadas. A relação centra-se entre a trivialidade aparente destes objetos no uso comum e a aproximação visual aumentada e utópica que o artista insere em sua prática. Objetos cotidianos também servem como matéria prima para as fotografias abstratas da série Mancha de Óleo, de Rivane Neuenschwander, produzida em 2012 a partir de imagens de satélites de derramamento de óleo. A obra remete imediatamente ao vazamento de petróleo ocorrido nas praias do Nordeste. Já o Tríptico, de Luiz Zerbini, incorpora grids inspirados nas janelas do edifício Copan em São Paulo, que nos lembra de quando o projeto modernista de Niemeyer representava a utopia de um futuro otimista que nunca chegou. O antropólogo francês Lévi-Strauss sintetizou esta rápida decadência numa frase hoje mais reconhecida pela canção Fora da Ordem de Caetano Veloso e apropriada na obra de Cerith Wyn Evans: Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína. A consolidação da falha deste projeto brasileiro é ilustrada em Perimetral de Mauro Restiffe, que documenta a polêmica implosão do elevado carioca. Planos de Fuga são retratos dos centros paulistanos característicos de qualquer cidade do mundo: camisas sociais, gravatas, maletas, mochilas – impermanências constantes que se repetem de segunda a sexta. Da mesma forma, na série New Ads for São Paulo, Franz Ackermann insere fachadas coloridas na cinzenta megalópole que poderia ser confundida com Xangai ou Nova Iorque. Tais fenômenos de fluxos contemporâneos geram consequências catastróficas sociais e ecológicas que hoje são amplamente questionados.
O excesso de informação e estímulo nos tornam condicionados a softwares que nos afastam da experiência do real. A escultura de Barrão A+B ilustra tal fenômeno: a organicidade dá lugar à rigidez das máquinas e telas que mediam cada vez mais nossas relações, e a cor cinza utilizada pelo artista pode ser interpretada como a monocromia usual dos materiais urbanos, como o concreto. Forma de Rodrigo Matheus e Copa de Leda Catunda usam a literalidade como ferramenta para explicitar os vícios de comunicação do mobiliário das cidades. Epitácio Pessoa, de Damián Ortega, traz tridimensionalidade aos pixos observados pelo artista na avenida homônima – os tags no universo do grafite reivindicam individualidade e presença no espaço público.
Já Bárbara Wagner, em sua série Mestre de Cerimônias documenta a produção de clipes do Funk Ostentação paulista confundindo as noções de fantasia e realidade: seria essa uma metáfora de nossos tempos?