Uma Canção para o Rio (parte 2)
18 Feb – 1 Apr 2017
Em colaboração com Douglas Fogle e Hanneke Skerath
Abertura
18 Feb, 19h–22h
Carpintaria
Rua Jardim Botânico 971,
Rio de Janeiro
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Agnieszka Kurant | Armando Andrade Tudela | Arto Lindsay | Bárbara Wagner & Benjamin de Burca | Barrão | Bruce Conner | Chelpa Ferro | Dave Muller | Hélio Oiticica & Neville D'Almeida | Kelley Walker | Los Carpinteros | Marine Hugonnier | Martin Creed | Nuno Ramos | Paulo Garcez | Rivane Neuenschwander | Vincent Meessen | Vivian Caccuri
A Fortes D’Aloia & Gabriel tem o prazer de apresentar a segunda parte de Uma Canção para o Rio, exposição inaugural da Carpintaria, concebida em parceria com os curadores Douglas Fogle e Hanneke Skerath (Studio LBV, Los Angeles). Nesta segunda parte, novos artistas são introduzidos ao grupo assim como novas obras de artistas participantes da primeira parte da exposição.
Barrão elege a fita cassete como signo para música em sua série de esculturas. Feitas em resina de cor branca, essas peças trazem imagens afetivas ligadas a essa mídia obsoleta, ao mesmo tempo em que aludem a artistas experimentais como William Basinski e Aki Onda, que utilizam o cassete em suas produções. Nuno Ramos, por sua vez, presta homenagem a Pixinguinha e Benedito Lacerda em Vou Vivendo (2017). Na escultura, um saxofone e uma flauta transversal (instrumentos usados na canção homônima desses dois compositores) são incrustados em dois blocos de pedra sabão e conectados por um tubo de vidro com cachaça. Em Luz Negra (2002) – vídeo do artista que será exibido na programação especial da mostra –, sete alto-falantes são enterrados no solo para tocar a canção Juízo Final de Nelson Cavaquinho, abafando a voz do intérprete.
Capas de discos também são objeto de reinterpretação na mostra. Elas estão no cerne da produção do americano Dave Muller, que transforma imagens icônicas de vinis e CDs com sua pintura expressiva e pessoal. Dentro de uma série de trabalhos feitos a partir de memórias de infância de pessoas conhecidas, Rivane Neuenschwander recria seis capas de Chico Buarque em pinturas sobre madeira. A estrutura gráfica e as cores se mantém, mas rostos e palavras são omitidos, em um eco difuso de uma lembrança setentista – uma samambaia, a planta doméstica típica da época, acompanha as capas. Na série de fotografias Hendrix War / Cosmococa Programa-in-Progress (1973/2003), Hélio Oiticica e Neville D’Almeida intervêm na face de Hendrix, desenhando as mancoquilagens sobre o álbum – termo criado pelos artistas para nomear essa espécie de máscara/maquiagem com trilhas de cocaína.
A francesa Marine Hugonnier insere cores e imagens às partituras de Arnold Schönberg (na obra Accompaniment for a Cinematographic Scene – Film Score, 2016) e de John Cage (em Sonic Mirage I, 2014), que agem como comentários visuais inspirados pela música. Em movimento semelhante, o carioca Paulo Garcez (1945–1989) tensiona desenho e escrita na série de litogravuras Variações Musicais (1985).
O inglês Martin Creed interessa-se pelo movimento dos corpos em Work No 1701 (2013), vídeo musical em que registra pessoas com dificuldades motoras ao atravessarem uma rua de Nova York. Já no filme Breakaway (1966) de Bruce Conner (também exibido na programação especial da mostra), música e dança se mesclam em ritmo frenético. As noções de ritmo e movimento também aparecem em Chuva Suave (2016) de Vivian Caccuri, no qual ela usa telas de proteção, cabos de áudio e carrilhões musicais para reinterpretar a paisagem sonora do centro do Rio de Janeiro.
Estás vendo coisas (2016) de Bárbara Wagner e Benjamin de Búrca apresenta a música como catalisador político e cultural a partir da indústria de videoclipes na cena pernambucana. Sob um viés psicológico, o filme revela personagens reais da música Brega e seu papel na construção da identidade de toda uma nova geração de artistas populares. A abordagem política também é mote para o trabalho de Armando Andrade Tudela. Em Berimbau Consciência (2017), lê-se a frase “This Machine Kills Fascists”, numa alusão à mensagem que o músico americano Woody Guthrie estampou em sua guitarra em 1941. O deslocamento que Tudela opera – seja na transição histórica entre a 2ª Guerra Mundial e os tempos atuais; seja na transposição da guitarra para um instrumento de origem africana que é associado à resistência dos escravos brasileiros – acaba por dar fôlego à ideia de que a música (e em sentido mais amplo, a própria identidade cultural) podem servir como luz para os tempos mais sombrios.