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Em
Trilha, a nova exposição de Iran do Espírito Santo na Fortes D’Aloia & Gabriel em São Paulo, o artista apresenta uma série inédita onde representa discos de vinil em aquarela. Cada trabalho foi pensado pelo artista de acordo com músicas e álbuns específicos, que deram lugar para uma espécie de trilha sonora autobiográfica, em que figuram composições do repertório brasileiro, da MPB à música clássica e ao rock.


Nenhum disco tem a mesma “impressão digital”, cada um possui uma configuração específica de sulcos e largura das faixas. Como a experiência de ouvir um disco, as aquarelas de Iran, embora executadas com precisão cirúrgica em escala real, ainda trazem estalidos, chiados e algum ruído ambiente, conforme a natureza manual do trabalho leva inevitavelmente ao aparecimento de pequenos acidentes na superfície. Trata-se de uma perda de resolução da imagem que acentua o processo físico por trás da composição. A principal estrutura de sentido nessas 12 aquarelas, como em toda a obra de Iran, está além do imediatamente visível e enraiza-se no processo intelectual articulado por ele como artista e por nós como espectadores. 


No campo da significação biográfica desse novo corpo de trabalho, os traços que a música deixa na memória encontram uma tradução figurativa no brilho reflexivo sobre as representações de discos, que o artista constrói ao permitir que o branco do papel apareça por trás de camadas mais finas de tinta. Esses caminhos reluzentes instauram um circuito de rotação, seccionando os discos circulares como os ponteiros de um relógio. 12 pinturas de 12 discos e 12 faixas de cada, como 12 horas do dia ou os 12 meses do ano. Essas aquarelas, como um ouvido que está sempre atento, sobrepõem a singularidade da percepção à pluralidade da experiência. 


Desde a década de 1980, Espírito Santo se preocupa com a reprodutibilidade técnica e sua sintaxe visual. No passado, ele recorreu à representação de outros objetos produzidos em massa – como dobradiças, porcas, parafusos, lâmpadas – para sublinhar dimensões diagramáticas e industriais. Com esta série de trilhas sonoras, Iran agora adiciona conotações autobiográficas à sua investigação contínua da forma.

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Vistas da exposição
Obras

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