RIVANE NEUENSCHWANDER Hidra capitalista (Pantanal), 2021

A Sua Estupidez

9 Jul – 20 Aug 2022


Abertura

9 Jul, 15h–18h


Carpintaria

Rua Jardim Botânico 971,
Rio de Janeiro

Como chegar


Download

Press release (PT)

Press release (EN)

Bárbara Wagner & Benjamin de Burca | Barrão | Cabelo | Erika Verzutti | Gokula Stoffel | Iran do Espírito Santo | Ivens Machado | Lenora de Barros | Márcia Falcão | Mauro Restiffe | Rivane Neuenschwander | Rodrigo Cass | Tiago Carneiro da Cunha | Yuli Yamagata

Apropriando-se da expressão “reserva de valor”, chavão do mercado financeiro por vezes usada para definir o investimento na compra de uma obra de arte, aplica-se aqui uma interpretação mais subjetiva. A obra de arte é de fato reserva de valor, é um objeto no qual o artista depositou imensas cargas de valores, é uma coisa continente que preserva em si valores caros ao artista, valores muitas vezes ameaçados mundo afora. A arte é a experiência dos valores encarnados nos objetos, valores que são ativados em nossa relação com a obra.

As 26 obras integrantes dessa exposição coletiva disparam vivências de valores e princípios diversos, porém não divergentes. Mesmo tendo sido criados em tempos e ambientes distintos, ao serem expostos juntos agora, todos os trabalhos convergem para o campo sociopolítico atual. Um conjunto se forma ocupando esse campo com força e fisicalidade, ressoando um valor comum: o valor do protesto. A pouco mais de dois meses para a eleição presidencial que poderá nos aliviar do nosso martírio nacional, esse protesto em forma de exposição de arte vem nos empurrar para o sentido de urgência. A Sua Estupidez torna-se então uma mensagem direta remetida coletivamente ao inominável que nos governa. A Sua Estupidez é a expressão da denúncia, a encarnação da revolta, a manifestação da liberdade de negar o que se despreza, a representação do que não nos representa.

A exposição se desdobra como um percurso de epifanias possíveis. Cabe ao visitante tomar para si os elementos disparadores, absorvê-los, traduzi-los em sensações e pensamentos. De cara, a transposição das estrelas outrora presentes na colorida bandeira brasileira para a seda preta na obra de Iran do Espírito Santo. Em frente, o vídeo Terremoto Santo de Bárbara Wagner & Benjamin de Burca (atualmente também em cartaz no New Museum de Nova York), retrata uma comunidade de fiéis crentes cantadores de Gospel no território Brasilis. Na sequência, as fotos-performance de Ivens Machado, seu corpo atado com gaze, tensão e pressão em plena ditadura militar.  Sua escultura de cacos de vidro encrustados em cimento pesa sobre o olhar, assim como pesa a escultura imagética de Espírito Santo, na forma de uma janela reflexiva de granito preto. Nas pinturas de Gokula Stoffel e Cabelo, seres delineados em vermelho parecem pressionados por pinceladas grossas e intensas que adensam o ambiente compositivo. A figura de Exu em forma de escultura serve de suporte para Luz com Trevas, videoclipe de Cabelo que se apropria de trechos de filmes do cinema marginal — como O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla — para convocar à união dos povos por liberdade e direitos.

O relevo de bronze de Erika Verzutti se nomina em forma e título: Demônio! Também nominal e direta, a Hydra Pantanal de Rivane Neuenschwander reinterpreta um inferno Dantesco na era capitalista. As fotos de Mauro Restiffe estabelecem o contraste dos empossamentos em Brasilia, a capital dos desmandos atuais. Tiago Carneiro da Cunha, em pintura e escultura, nos apresenta personagens arquétipos da perdição, ao mesmo tempo assustados e assustadores. Rodrigo Cass, em uma escultura e um vídeo, trata da instabilidade e da ruptura, de armas brancas que rompem corpos frágeis, de quebras. Márcia Falcão nos obriga a encarar a dor do corpo feminino violentado, o sangue na matéria da tinta. Lenora de Barros protesta o silêncio com marteladas ruidosas, violentas. A violência que também se encarna nos relevos pictóricos de Yuli Yamagata, de onde saltam olhos esbugalhados e mãos tesas, como num filme B de terror. Ao fim, como uma mensagem de rádio para o futuro próximo, a escultura de Barrão acena com uma bandeira branca, um gesto de amor, um apelo.

Porque, afinal, isso tem que mudar.
Porque, como bem disse a canção, a sua estupidez não é normal!

Imagens

Vistas da exposição
Obras

Vistas da exposição

Obras