EmptyName-22-Pano

Rivane Neuenschwander

O fardo, a farda, a fresta

28 Oct 2023 – 3 Feb 2024


Abertura

28 Oct, 14h–18h


Galpão

Rua James Holland 71
São Paulo

Como chegar


Download

Ensaio crítico por Tiago Mesquita (PT)

Ensaio crítico por Tiago Mesquita (EN)

Press release (PT)

Press release (EN)

Em sua nova exposição na Fortes D’Aloia & Gabriel, “O fardo, a farda, a fresta”, Rivane Neuenschwander aborda a persistência contemporânea de estruturas herdadas dos anos da ditadura militar no Brasil (1964 – 1985). Ao traduzir as memórias de pessoas que viveram a infância durante este período em configurações escultóricas e visuais, seus trabalhos reconstroem o passado e o fazem ressoar com o momento atual. Por meio das lembranças coletadas de seus interlocutores, a artista mineira trata da censura, da cumplicidade do empresariado com o aparelho repressivo, da ideologia militarista e da tortura, mas apanha circunstâncias em que o controle exercido por essas instituições falha, abrindo frestas no horizonte cerceado de um dos momentos mais violentos da história brasileira. Através de pequenas crônicas singulares e pessoais, Neuenschwander evidencia a importância da transmissão da experiência, ao mesmo tempo em que traça um retrato subjetivo do Brasil da época, que sem suficiente elaboração, volta periodicamente a nos assombrar.

 

M.C. (Agulhas Conspiratórias) (2023) é um conjunto de nove aquarelas que citam ilustrações médicas históricas. Com as intervenções da artista, esse material de arquivo passa a representar os nove integrantes de uma delegação chinesa que veio ao Brasil em 1961, presos e torturados pelo DOPS. As figuras ilustram pontos de acupuntura em que se fincam agulhas, referência àquelas encontradas na posse dos chineses, consideradas pelos militares como instrumentos subversivos. Na tapeçaria A.E. (Nunca Mais Brasil) (2023), figuras relacionadas ao imaginário infantil são intercaladas com nomes de lugares que serviram como centros de tortura de opositores da ditadura. Grafados com as letras embaralhadas, os nomes parecem exigir a atividade de deciframento de arquivos, exercício que levou à revelação das práticas criminosas do governo ditatorial.

 

Tal embaralhamento também tem lugar em V.G.T. (Ame-o ou deixe-o) (2023), um objeto que replica os painéis letreiros de aeroportos antigos. As abas giratórias alternam entre anagramas do famoso slogan de propaganda do governo militar “Brasil: ame-o ou deixe-o”. Simulando o traçado da rodovia Transamazônica em escala reduzida, J.B. (Piracema, uma transa pós-amazônica) (2023) revisita o projeto de construção da estrada e seu impacto tanto no imaginário cultural quanto no ambiental, com propagandas da época em meio a cactos, gravetos e rochas que compõem uma paisagem devastada e desértica.

 

O filme Eu sou uma arara (2023), uma co-autoria de Neuenschwander e Mariana Lacerda, ocupa posição central na exposição, estabelecendo correspondências com os enunciados de resistência à ditadura e transpondo essa problemática para o contexto atual do Brasil e do mundo. O curta-metragem registra manifestações do coletivo Floresta de cristal, que ao longo de um ano infiltrou-se em atos públicos em São Paulo, trajando máscaras de animais e adereços vegetais, formando a Reviravolta de gaia. Denunciava-se a destruição do meio ambiente e o genocídio dos povos indígenas, projeto de extermínio acelerado e institucionalizado pelo governo militar. Desde os trabalhos que acionam a experiência coletiva da segunda metade do século XX no Brasil ao filme que acompanha de perto o Brasil de hoje, O fardo, a farda, a fresta traça um caminho entre narrativas dissidentes, esforços de contestação, fechamento e possibilidade, num mapeamento plástico do terror e de seu inverso, a rememoração como ferramenta política.  O livro Reviravolta de Gaia, dedicado aos registros visuais do processo de produção de Eu sou uma arara, será lançado em paralelo à abertura.

Imagens

Vistas da exposição
Obras

Vistas da exposição

Obras

Notícias relacionadas