Mateus Moreira
Nêmesis
22 Mar – 13 May 2023
Abertura
22 Mar, 18h–21h
Carpintaria
Rua Jardim Botânico 971,
Rio de Janeiro
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A Fortes D’Aloia & Gabriel tem o prazer de apresentar Nêmesis, primeira exposição individual de Mateus Moreira (Belo Horizonte, 1996) no Rio de Janeiro, no Aquário da Carpintaria. Desdobramento de sua mostra Conselhos, na Galeria Celma Albuquerque, em Belo Horizonte, essas obras compõem ambientes esparsamente povoados por figuras que ora remetem a acontecimentos históricos, ora participam de cenas fragmentárias em cenários de ruína e catástrofe. Os trabalhos expostos formam um recorte expressivo da produção de Moreira, cuja pintura articula métodos compositivos clássicos com uma temática contemporânea candente. A sua execução tecnicamente apurada cria um espaço impactante onde o artista figura as ameaças políticas, ecológicas e industriais que nos circundam, extraindo lições do passado para reimaginar o futuro no presente.
Compulsão (2023) reproduz o espancamento de Rodney King por policiais de Los Angeles no início dos anos 1990. O episódio constitui um acontecimento fundamental na luta coletiva contra o racismo e a violência de estado, e serviu para frear os ideais de integração social otimistas do final do século XX. O céu é quebrado como um espelho, dando à cena uma dimensão profética, como um mau agouro que ameaça o porvir. O alcance histórico e o impacto pictórico da obra contrastam com suas dimensões reduzidas. Os jogos de luz, as nuvens e as massas de ar de Moreira conjuram uma atmosfera dramática e densa, lembrando alguns artistas românticos do séc. XIX como Friedrich ou Turner. Onde esses se preocuparam em reduzir ao máximo o número de figuras humanas no quadro, Mateus reintroduz a ação coletiva e o impulso narrativo na sua pintura.
Em pinturas maiores, como Oblívio (2023), o céu ocupa mais de três quartos da superfície. À distância, parece uma abstração meteorológica em que o único personagem é o clima. Aproximando-nos, percebemos que fantasmagorias navegam em botes por uma água lodosa. Esses personagens evocam populações marginais e invisíveis, passando despercebidas por baixo dos postes que tateiam os céus. Apesar da profusão de informações de temperatura, luz e umidade que as pinturas de Moreira carregam, elas permanecem assombradas pelo desaparecimento. Em Nêmesis (2023), enormes edifícios construídos numa arquitetura corporativa ou burocrática parecem dissipar-se no céu ou concentrar num breu vazio. Entre os prédios, há uma pequena aglomeração de pessoas ao redor de um personagem que faz malabarismo com cabeças humanas sob o signo de um esqueleto animal. A cena ecoa um destino coletivo pós-apocalíptico.