O artista mexicano Damián Ortega expõe pela primeira vez no Brasil no mezanino da Galeria Fortes Vilaça. Considerado por importantes críticos e curadores internacionais como o responsável pela mais relevante expressão da nova arte contemporânea mexicana, Ortega apresenta em São Paulo “A Matéria, A Energia”.
Neste momento, o artista participa paralelamente da seção Aperto da 50 Bienal de Veneza, expondo a mais impressionante de suas criações recentes: “Coisa Cósmica”, uma escultura onde todas as partes de um velho fusca flutuam ordenadamente no espaço, numa disposição explodida como a perspectiva dos desenhos didáticos de antigos manuais de carros.
Ao contrário da incrível precisão dos elementos em “Coisa Cósmica”, nesta exposição Ortega não apresenta uma obra estruturalmente formal, nem de fisicalidade palpável. Trata-se de uma instalação de natureza mutante e indefinida, como uma composição de possibilidades. São 1.700 tijolos baianos ordinários, dispostos aleatoriamente uns sobre os outros do chão ao teto do mezanino. Toda essa matéria figura apenas como simulacro da obra, um indicativo do potencial escultórico da massa física ali presente, ou como energia em repouso, num momento anterior ao verdadeiro apsis da construção. A matéria, a energia – daí o título da exposição.
A instalação parece falar ao mesmo tempo sobre a estética, a política e o artesanato do processo arquitetônico, buscando ser mais argumentativa do que concreta. O artista propositadamente isentou-se de controlar o material, abrindo mão do privilégio da finalização da obra e permitindo assim que todas as suas versões aconteçam como experiências vividas na imaginação do expectador.
Numa parede do mezanino, fotografias exibem possíveis distintas acomodações desta matéria dentro do espaço expositivo: os tijolos empilhados metodicamente formando um grande cubo no meio da sala, os tijolos alinhados lado a lado cobrindo todo o chão, os tijolos presos por arames pendurados desde o teto. Sólido, líquido, gasoso, três fases de um processo em constante transformação.