Adriana Varejão
Valeska Soares
Under the Influence: Adriana Varejão & Valeska Soares
28 Jan – 11 Mar 2023
Abertura
28 Jan, 16h–19h
Carpintaria
Rua Jardim Botânico 971,
Rio de Janeiro
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A Fortes D’Aloia & Gabriel apresenta Under the Influence: Adriana Varejão & Valeska Soares, em paralelo à exposição Tucci Russo, Torino, 1983. Se a mostra no espaço principal da Carpintaria visa a exibição de trabalhos expostos pela primeira vez na Itália dos anos 1980, as obras de Adriana Varejão e Valeska Soares no Aquário evidenciam as relações formais e temáticas entre suas obras e a de Machado (1942 – 2015).
No segundo andar da Galleria Tucci Russo, em 1983, Machado produziu uma instalação em que cobria de argamassa preta duas colunas do espaço expositivo. Em uma delas, construiu uma base piramidal cinza; na outra, construiu a mesma forma em rosa junto ao teto, ambas revestidas de azulejo. Foi a partir dessa obra que Adriana Varejão produziu Ruína Talavera II (2021), que foi exposta em Nova York, na Gagosian Gallery e em São Paulo, na retrospectiva da artista na Pinacoteca do Estado. É a primeira vez que essa obra monumental de Adriana pode ser vista pelo público carioca. O azulejo em Machado é um material carregado da crueza da construção civil, enquanto a sua função histórico-crítica é o que pesa em Varejão. Aludindo ora à azulejaria portuguesa, ora à cerâmica talavera poblana, os azulejos são emblemas da cultura visual, para Varejão, enquanto para Ivens são uma tipologia construtiva serial e prontamente encontrada. Os dois trabalhos se encontram na sua imponência física e na distorção arquitetônica que provocam: a argamassa preta de Machado torna-se a carne marmórea de Varejão.
Nos anos 1970, Ivens Machado apresentou Sem título (performance com bandagem cirúrgica) (1973), em que aparecia mumificado em bandagem cirúrgica. Em plena ditadura militar, as conotações de tensão, paralisia e encobrimento ficavam patentes. Em Untitled (from Bondage) (2019), Valeska Soares toma a obra como um corpo acidentado, remetendo à performance de Ivens. Na primeira tela do díptico, a artista envolve a parte inferior do quadro com bandagem, num procedimento que poderia estancar ou esconder uma ferida ao mesmo tempo que se aproxima de uma paisagem com uma linha de horizonte. A segunda tela é cravejada de pedaços de papel amassados e queimados, numa composição cuja simplicidade formal ressalta a brutalidade do esgarçamento da superfície.
Ao dotar o campo da escultura de alusões políticas e eróticas, estabelecemos os cruzamentos entre Ivens Machado, Adriana Varejão e Valeska Soares, conforme se constitui um circuito entre o corpo humano, em sua vulnerabilidade constitutiva, e o corpo do suporte, em sua instabilidade inerente. Após a morte de Ivens, em 2015 há um movimento compartilhado de retomadas e novas abordagens de sua obra, resgatando uma presença inquietante e perpetuamente desafiadora, de que Varejão e Soares, aqui nesses trabalhos, se fazem herdeiras e intérpretes.