Robert Mapplethorpe
Robert Mapplethorpe: mais que um rosto
25 May – 5 Aug 2023
Abertura
19 May, 0h–21h
Carpintaria
Rua Jardim Botânico 971,
Rio de Janeiro
Como chegar
Download
A Fortes D’Aloia & Gabriel tem orgulho de anunciar Robert Mapplethorpe: mais que um rosto, exposição de Robert Mapplethorpe (1946-1989) na Carpintaria, Rio de Janeiro.
Reunindo obras da segunda metade dos anos 1970 aos anos 1980, a mostra aproxima temas presentes nas fotografias de Mapplethorpe e no romance japonês Confissões de uma máscara (1949), de Yukio Mishima, em que um personagem semi-autobiográfico tenta compreender sua homossexualidade no Japão do pós- guerra. A “máscara” referida no título do livro é a persona pública, espécie de prótese social, com que o autor se apresenta à sociedade patriarcal em que cresceu.
As fotografias de Mapplethorpe, como o clássico de Mishima, recriam arquétipos, fetiches e personagens ligados ao desejo e as imbricações entre sexo, violência, masculinidade e submissão. O artista produz um contraste entre seus temas sadomasoquistas e eróticos e a apresentação impecável de sua obra, deixando o espectador numa posição ambígua entre fascínio e distanciamento. De forma análoga, o narrador do livro de Mishima mascarava a sua homossexualidade sob o disfarce exterior de um fisiculturista, apaziguando uma disparidade insolúvel entre o que o Japão da época considerava fraqueza, e a dureza que a mesma sociedade legitimava.
Tanto a iconografia cristã quanto a cultura visual do BDSM homossexual têm seu funcionamento estruturado no fetiche, entrelaçando devoção, submissão e a adoção de posições arquetípicas num código complexo. Máscaras e espelhos aparecem recorrentemente nas fotografias de Mapplethorpe, entre músculos esculpidos, meias arrastão, facas e couro.
Uma das passagens mais impactantes de Confissões de uma Máscara acontece quando o personagem principal, ainda muito jovem, se vê atraído por uma reprodução do São Sebastião martirizado. O rosto do santo parece suspenso em êxtase, num prazer indiferente à tormenta. Essa dimensão erótica das imagens devocionais aparece no retrato que Mapplethorpe faz de Peter Reed (1980), que remete à imagem do Cristo deposto. Como em Mishima, o poder sexual das formas visíveis é sempre espreitado pela figuração da morte. Em Cross (1984) e Leg (1983), tanto o crucifixo quanto a perna de meia arrastão são fotografadas com um contraste decidido entre sombra e luz, produzindo um drama entre ocultamento e revelação. O que Mapplethorpe faz da câmera como espécie de máscara, um anteparo em frente ao rosto, prolonga o seu olhar enquanto esconde a sua identidade.