Temos o prazer de apresentar a nova exposição de Adriana Varejão no Galpão Fortes Vilaça. A artista carioca, há cinco anos sem realizar no país uma mostra apenas com trabalhos inéditos, apresenta a recém-criada série Polvo, fruto de uma pesquisa de forte caráter conceitual, desenvolvida ao longo de mais de 15 anos acerca da representação das cores de pele dos brasileiros e da maneira ambivalente como se define raça no Brasil.
Polvo é o nome do conjunto de tintas idealizado e criado por Adriana. O ponto de partida para a criação deste trabalho foi uma pesquisa de campo elaborada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 1976. Normalmente, o censo oficial brasileiro classificaria as pessoas em cinco grupos diferentes de acordo com sua cor de pele: branco, preto, vermelho, amarelo e pardo. Naquele ano, no entanto, a pesquisa domiciliar introduziu uma questão em aberto: “Qual é a sua cor?”. O resultado foram 136 termos, alguns deles inusitados, cujos significados são muito mais figurativos do que literais. A artista selecionou os 33 termos mais exóticos, poéticos ou vinculados a uma interpretação especificamente brasileira de cor como suposto social, e a partir deles criou as suas próprias tintas a óleo baseadas em tons de pele. Assim, surgiram as cores ‘Fogoió’, ‘Enxofrada’, ‘Café com leite’, ‘Branquinha’, ‘Burro quando foge’, ‘Cor firme’, ‘Morenão’, ‘Encerada’ e ‘Queimada de sol’, entre outras.
O resultado mais imediato desse processo é um objeto de arte – uma caixa com 33 tubos de tinta e cuidadosa tecnologia industrial, em versão bilíngue (múltiplo com tiragem de 200 exemplares). Varejão também apresenta uma série de pinturas, intituladas Polvo Portraits (China Series), elaboradas a partir dessas tintas, montadas formando um grande painel. As pinturas são retratos da própria Adriana, porém não são exatamente autorretratos, já que foram executadas por pintores retratistas, sob encomenda. O caráter autoral, porém, é resgatado a partir das intervenções e reinterpretações dadas pela artista. A cor da pele permanece neutra, acinzentada, mas a imagem é complementada por uma série de pinturas faciais de caráter geometrizante e inspiração indígena feitas com as 33 cores Polvo. Acompanhando os retratos há pinturas circulares abstratas que trazem somente tabelas de cores com tons de peles das tintas.
O conjunto apresentado na mostra mantém estreita relação com trabalhos anteriores da artista que lidam com questões como miscigenação, colonialismo e a cor da pele. Temas que constituem uma espécie de chão do trabalho de Adriana Varejão, quer assumindo um caráter mais metafórico e sutil (como nas Tintas Polvo), quer adotando um caráter de forte expressividade, tributário da arte barroca (como na série Língua). “Cor é linguagem”, defende Adriana, “quando nomeamos todos esses matizes de peles, a gente dilui a questão das grandes raças – conceito, aliás, já derrubado por terra pela biologia”, pontua.
Adriana Varejão nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, 1964, onde vive e trabalha. Suas exposições individuais recentes incluem Histórias às margens, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e Museu de Arte Latinoamericana de Buenos Aires; Fondation Cartier pour L’Art Contemporain, Paris; Hara Museum, Tóquio; Centro Cultural Belém, Lisboa, Bildmuseet, Umea, Suécia. Suas exposições coletivas incluem as Bienais de Veneza, São Paulo, e Sidney; Tempo, MoMA, New York; ARS 06, KIASMA, Museum of Contemporary Art, Helsinki; Liverpool Biennial, Liverpool, UK Body and Soul, Guggenhein, New York, entre outras. Seu trabalho está presente em coleções como a Tate Modern em Londres, Salomon R. Guggenheim Museum em New York, Hara Museum, Tóquio, Museum of Contemporary Art, San Diego, Stedelijik Museum, Amsterdam, Museu de Arte Moderna de São Paulo e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; entre outras.