A Galeria Fortes Vilaça tem o prazer de apresentar Picture show de Julião Sarmento. Pinturas, desenhos e uma escultura, todos inéditos, compõem a mostra e confirmam a singularidade do trabalho do artista português. Nesta série, Sarmento explora a ligação entre artes plásticas e cinema. Todos os trabalhos possuem títulos que remetem às grandes divas e personagens femininas do clássico cinema Hollywoodiano das décadas de 1940, 1950 e 1960, como Greta, Audrey, Grace e Elizabeth.
Uma espécie de "representação genérica da mulher"- uma figura feminina, vestida com um sexy vestido preto e com a cabeça cortada na altura do queixo – aparece em todas as pinturas como um repositório destas personagens e divas. "A representação de uma mulher sem cabeça evita que as pinturas se transformem em retratos, pois a construção de um rosto ou o apontamento de um olho a transformaria numa mulher determinada, real" explica Sarmento. O artista aplica nas telas uma cera que apaga superficialmente pedaços dos corpos, dando aos trabalhos um tratamento propositalmente inacabado, em que podem ser vistas as marcas de sua ação. Pequenos fragmentos dos diálogos dos filmes a que os títulos das pinturas se referem são serigrafados sobre os fundos brancos.
Nos desenhos, intensifica-se a mistura entre as linguagens visual e escrita. As breves frases dividem espaço com fotografias em preto e branco das atrizes em ação; enquanto uma série de desenhos de mãos, sempre em pares, aparece no centro dos trabalhos. Tocando-se e entrelaçando-se de maneira diferente a cada desenho, as mãos compõem um amplo repertório de gestos, admitindo uma forma de comunicação corpórea, não verbal.
Na única escultura exposta, a personagem feminina ganha proporções humanas e é colocada sentada ao lado de um quadro, entre duas prateleiras grudadas na parede da galeria; enquanto uma sustenta seu corpo, a outra corta seu rosto.
A fragmentação e incomplitude dos corpos representam o que Sarmento denomina de "relance da passagem"- "o momento em que percebemos que há alguém próximo, e que, mesmo sem olharmos diretamente para este alguém, reconhecemos o espaço vazio deixado por sua passagem". Representar o "relance da passagem" não deixa de ser a "… valorização da ausência enquanto multiplicação de possibilidades", como apontou David Barro.
Para Julião Sarmento, os trabalhos expostos não pretendem formar uma narrativa entre si, nem ser descritivos ou ilustrativos em relação às ações decorridas nos filmes a que fazem referência, mas sim, cada trabalho individualmente, pretende ser gerador de seu próprio léxico.