A Galeria Fortes Vilaça tem o prazer de apresentar Paisagem de Efrain Almeida. Suas marcantes esculturas de madeira são, desta vez, calcadas nas referências domésticas e afetivas de sua infância passada nas cidades de Boa Viagem e Olho d’Água dos Fecundos no interior do Ceará.
Imaginário nordestino e contos de fadas misturam-se nas obras de escala reduzida, esculpidas manualmente pelo próprio artista. “São esculturas pequenas, como flashes de memória em que as imagens vão ficando pequenininhas”, diz Almeida. Dispostos no mesmo espaço estão duas coelhas adornadas com vestidos de tecido cor de rosa, uma série de trinta e dois pintinhos e três cabritas – referência direta às esculturas de Pablo Picasso -, formando uma fauna congelada em uma cena silenciosa, carregada de lirismos, simbolismos e certo tom de melancolia.
Nas obras Cadeira Bode e Banco Cabra, encontramos esculpidas patas de animais no lugar dos pés originais da cadeira e do banco – são objetos híbridos, que aproximam as noções de funcionalidade e arte, “é o doméstico metamorfoseado”. Também extraída dentre os elementos que compunham a paisagem de sua infância, há Casa Olho d’Água, uma miniatura fiel das típicas casas sertanejas. Tomando a si mesmo como modelo físico e simbólico, Efrain cria a obra Mãos com Cabeça, formada por duas mãos segurando nas palmas uma cabeça que traz entalhada a face do artista. Neste último trabalho verifica-se um traço recorrente da poética de Almeida: a fragmentação do corpo e omissão de membros, gerando obras de forte impacto, inspiradas nos ex-votos encontrados nas igrejas católicas do nordeste. Todas as obras são feitas em madeira Umburana, trazida diretamente das terras dos pais do artista no Ceará.
Em Paisagem o espectador pode – de certa maneira – conviver com o artista em suas memórias. São obras originadas de “impressões tão reinterpretadas” que não possuem condição de documento, são quase ficcionais, “voltam-se para o espectador em busca de cumplicidade”, como diz Moacir dos Anjos, servem como um ponto de partida para que se ativem as memórias daqueles que as contemplam.
Efrain Almeida participou nos últimos anos de exposições individuais e coletivas em museus e galerias do Brasil, Estados Unidos e Europa. Em Junho de 2007, sua obra mereceu exposição retrospectiva na Estação Pinacoteca em São Paulo.