Tamar Guimarães

Os últimos dias de Watteau

1 Sep – 13 Oct 2012


Galpão Fortes Vilaça


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Press Release

Texto Curatorial

Tamar Guimarães trabalha com filme, som e instalações. Sua obra frequentemente incorpora materiais encontrados nos locais de pesquisa tais como fotos, textos, documentos e objetos.  O reprocessamento desta matéria prima produz narrativas de natureza híbrida entre o documentário, o ensaio e a ficção.

Os últimos dias de Watteau é uma fotonovela para projetores de slides com som sincronizado. A obra, realizada em colaboração com o artista dinamarquês Kasper Akhøj, foi produzida inicialmente para a o programa Satellite do Jeu de Paume, e em parte patrocinada pelo Danish Arts Council Committee for Visual Arts.

A referência à Watteau surge de uma anedota sobre o local da Maison d’Art Bernard Anthonioz em Nogent-sur-Marne, França, onde o projeto foi originalmente instalado. Ao pesquisar o contexto da Maison, o que chamou a atenção dos artistas foi o fato de a casa ter sido preservada como monumento histórico, no século passado, em função de um dossiê de evidências falsas produzido por seus antigos donos, atestando que o grande pintor francês do movimento rococó Antoine Watteau – autor do gênero “fête galantes” – havia passado seus últimos dias e falecido lá. Esse factóide de repercussões históricas foi o ponto de partida para a obra.

Guimarães e Akhøj encenaram um festa. Entre os convidados para a festa estavam, entre outros, a equipe da Maison d’Art e do Jeu de Paume, e pessoas do meio das artes de Paris que interagiam com um pequeno elenco de atores. O que se vê nos slides são o resultado de um experimento cênico em cenas ensaiadas e também improvisadas. Nesse ponto o projeto se relaciona à Canoas [2010] de Tamar, que foi produzido de forma semelhante.

Além da referência a Watteau, os artistas fazem alusão a outros rumores que circundam a Maison, como as transcrições originais do julgamento de Joana d’Arc, que supostamente teriam sido parte da coleção de manuscritos raros da biblioteca da casa mas retirado de lá durante a guerra e nunca retornado, e também à uma coleção de máscaras africanas falsas deixadas de herança por um  antigo residente Maison. Essas três referências formam o pano de fundo para a fotonovela, onde os convidados e atores atuam.

A obra não é uma reconstrução de fatos históricos e sim uma reflexão sobre o resíduo histórico destes fatos. De como nomes e eventos são usados, manipulados, diluídos, carregados de novos sentidos, não compreendidos e reinterpretados novamente através da história e de um novo contexto. Afinal, um objeto perdido talvez nunca tenha sido possuído.

Tamar Guimarães nasceu em Belo Horizonte em 1967 e vive e trabalha em Copenhagen. Além da recente exposição na Maison d’art Bernard Anthonioz, Jeu de Palme Satellite programe, em 2012, a artista já teve individual na Gasworks, Londres, UK [2011]; IMA Institute of Modern Art, Brisbane, Austrália [2009]. Já participou do Panorama de Arte Brasileira do MAM São Paulo [2009] e da Bienal de São Paulo [2010], entre outras. Sua obra está na coleção de Inhotim, Belo Horizonte, Brasil; Frac Lorraine, França; Guandong Museum, Guangzhou, China; CIFO, Miami, EUA.

Imagens