João Maria Gusmão
Pedro Paiva

Meteorítica

30 Aug – 27 Sep 2008


Galpão Fortes Vilaça

Meteorítica é a primeira exposição individual dos artistas portugueses João Maria Gusmão e Pedro Paiva no Brasil. A dupla mostra obras inéditas, entre diversas projeções de filmes 16 mm e esculturas em bronze.

Gusmão e Paiva se tornaram conhecidos por seus filmes mudos que unem, de forma singular, pensamento filosófico e artes visuais. Suas obras, que em um primeiro contato parecem possuir um caráter puramente científico, logo revelam não ter qualquer explicação linear. São experimentações curtas, que escapam de qualquer narrativa, mostrando um caráter misterioso e até humorado. Explosões incompreensíveis ocorrem em buracos, sem origem explícita, efeito ou razão; véus de radiação atravessam paisagens; homens tentam abrir pedras gigantes com ferros; blocos de gelo são jogados no mar, etc.

Entretanto, longe de serem apenas imagens irreconhecíveis de acontecimentos ilógicos, a obra de Gusmão e Paiva aborda densos temas como subjetividade, liberdade de escolha e a própria natureza da existência. Fazendo uma referência a Fernando Pessoa, a dupla diz que suas obras são “ficções que discutem a filosofia da poesia”.
Na presente exposição, Gusmão e Paiva abordam o conceito de Meteorítica, que se baseia na idéia – experimental, estética e filosófica – de se atribuir ao ser uma origem informal, uma multiplicidade genérica que precede a sua condição material. Como afirma Gusmão, “à semelhança do meteoro – que provem do infinito e adquire uma existência finita ao se chocar com a crosta terrestre – a Meteorítica tem a ver com explodir do vazio para a existência”.

Todos os filmes são silenciosos e têm uma visualidade propositalmente envelhecida, parecendo terem sido feitos nos primórdios da produção cinematográfica. A dupla comumente trabalha com atores amadores e muitos dos absurdos atos de seus filmes são criados com a ajuda de efeitos especiais “low-tech”, visíveis ao olhar do espectador. Em Sombra Magnética,a câmera é um plano fixo e mostra a sombra de um arbusto percorrendo uma mesa branca onde está espalhada limalha de ferro. Enquanto a sombra passa, manifesta-se uma influência magnética no ferro. Iniciação mostra a cena de uma cabeça tendo seu cabelo raspado com lâmina de barbear, como se fosse a preparação para uma trepanação no crânio. Já em Chama Meteórica, um vidreiro retira um pedaço de vidro líquido incandescente de um forno de alta temperatura, roda o vidro no tubo de vidreiro e deixa cair uma gota contínua para o chão. O vidro queima o chão e liberta chamas.

Como apontou Jens Hoffman, “Gusmão e Paiva focam essencialmente em questões ligadas à ética, metafísica, epistemologia e lógica, abraçando idéias existencialistas e rejeitando um entendimento puramente racional do mundo”.

Os artistas já expuseram no Wattis Institute for Contemporary Art, São Francisco, USA, em 2008; no MNAC – Museu do Chiado, Lisboa, Portugal, 2005 e participaram da 6ª Bienal de Mercosul, A Terceira Margem do Rio, Porto Alegre, Brasil, em 2007 e da 27ª Bienal de São Paulo, em 2006.

Imagens