Hollywood Boulevard
19 Jan – 11 Mar 2006
Galeria Fortes Vilaça
Andy Warhol | Cindy Sherman | Douglas Gordon | Ed Rusha | Francesco Vezzoli | Jack Pierson | John Baldessari | John Waters | Julião Sarmento | Richard Prince | Vik Muniz
Curadoria de Alexandre Melo
A Galeria Fortes Vilaça tem o prazer de apresentar a exposição coletiva Hollywood Boulevard, que reúne pinturas, fotos e gravuras de um verdadeiro time de estrelas da cena contemporânea internacional.
Dentro da ampla arena de assuntos relacionados à Hollywood o curador português Alexandre Melo aponta alguns temas de seu interesse específico que nortearam a escolha dos trabalhos: os modelos de beleza, "glamour" e desejo elaborados e propagados a partir de Hollywood; o star-system ou indústria da fama; a inserção de uma gramática cinematográfica de produção de imagens nas artes visuais e uma geografia mítica em que Hollywood aparece como "um paraíso inventado, perdido, re-encontrado ou falsificado".
As duas fotografias de Cindy Sherman, Sem titulo da série Bus Riders, 1975/2005 mostram a própria artista vestida como personagens comuns que esperam um ônibus. Tanto a caracterização como a pose dos personagens sugere um híbrido de ficção e realidade. É como se imagem das pessoas nas ruas já refletissem uma estética do cinema e TV, como se a artista procurasse retratar, já na década de 70, uma espécie de realidade mediatizada.
Jack Pierson, John Baldessari e John Waters exploram o desenvolvimento da gramática cinematográfica nas artes visuais. Pierson é representado com dois trabalhos. Actress, 2000 é uma foto em que cada letra da palavra actress aparece escrita em uma tipologia diferente. Já na pintura Stardust #2,2001 um close-up cinematográfico é tratado no limite entre abstração e figuração. Em Sex and Crime,1996 Baldessari faz intervenções abstratas sobre figuras de detetives e mocinhas dos filme noir. O Cineasta e artista plástico John Waters, faz uma compilação de fotogramas icônicos selecionados de diversas fontes a partir de estoque infindável de imagens hollywoodianas – uma mina de imagens – que constitui o mais rico e vasto filão de abastecimento do imaginário humano no último século.
A geografia mítica de Hollywood aparece nas obras de Ed Ruscha, representante dos EUA na última Bienal de Veneza, e do artista português Julião Sarmento. Tanto Ruscha quanto Sarmento usam os nomes das ruas de Hollywood como elemento formal das obras.
A obra de Andy Warhol e sua persona pública são praticamente indissociáveis. O artista descobriu, tematizou e se aproveitou do star-system. A escolha de um auto-retrato do artista aponta nesta direção. Richard Prince também se apropria do aparato publicitário hollywoodiano utilizando fotos autografadas de atrizes como Katie Holmes e Neve Campbell em suas obras.
Outros destaques da mostra são as fotografias de Vik Muniz – uma Bette Davis feita de diamantes e a Múmia de Boris Karloff feita de caviar – e um bordado do Italiano Francesco Vezzoli, em que as imagens de Sônia Braga e Amália Rodrigues aparecem em lados opostos de um mesmo quadro.
Hollywood Boulevard, São Paulo, 2005
por Alexandre Melo
1. A aura de Hollywood consiste no capital simbólico correspondente ao poder de produzir, conservar e reproduzir um stock de imagens – uma mina de imagens – que constitui o mais rico e vasto filão de abastecimento do imaginário humano no último século. O modo hollywoodesco de produção de imagens contribuiu mais do que qualquer outra fonte, para a definição e evolução do modo, inédito na história do gênero humano, como os filhos e cidadãos do século XX construíram os seus quadros de percepção do real e de estruturação do desejo e da imaginação.
Ao falar de Hollywood falamos do modo de produção de imagens que – a partir do modelo clássico do cinema americano e através da sua expansão e revolução permanente, designadamente por meio da sua absorção e transformação por uma linguagem televisiva em vias de universalização – é a base material das mutações culturais de fundo designadas por expressões como a sociedade do espetáculo, o império das imagens, o triunfo do "star system", a generalização da mediatização imagética das relações humanas ou, ainda, a indissociabilidade ontológica entre a realidade e a ficção, introduzida e sustentada pelo novo regime televisual de vivência das imagens.
2. As obras selecionadas para a exposição "Hollywood Boulevard" relacionam-se de modo mais ou menos direto com aquilo que Hollywood invoca enquanto mito ou realidade.
Entre os tópicos mais relevantes para uma aproximação de conjunto às obras expostas destacamos:
– Os modelos de beleza, "glamour" e desejo elaborados e propagados a partir de Hollywood e o modo como eles influenciaram a experiência social da beleza e da sexualidade gerando, também distanciamentos e reações críticas, por vezes radicais.
– O "star system" e a idéia de "star" que, banalizada através da televisão e da música pop, se tornaram uma obsessão da vida social contemporânea.
– Uma nova gramática de produção de imagens que, tendo sido inventada pelo e para o cinema, é hoje uma referência maior para todas as outras artes e, nomeadamente, para as artes plásticas.
– Uma geografia mítica em que Hollywood ou Los Angeles, em geral, fazem as vezes de lugar utópico de um Paraíso inventado, perdido, re-encontrado ou falsificado.
3. A palavra "Boulevard" que completa o título da exposição, para além do seu sentido topológico literal – uma avenida de Los Angeles, com características peculiares – introduz uma dimensão nostálgica que pode ser relacionada com uma distancia cronológica e geográfica: um eco da Europa, de Paris do século XIX, do "flâneur" de Baudelaire e Benjamin. A expressão de uma nostalgia que, tendo começado por ser uma nostalgia em relação ao mundo antes do cinema, hoje começa já a ser uma nostalgia em relação ao mundo dos primórdios do cinema.