22-09-02_2664-Pano

Barrão
Josh Callaghan

FALA COISA

3 Sep – 29 Oct 2022


Abertura

3 Sep, 16h–19h


Carpintaria

Rua Jardim Botânico 971,
Rio de Janeiro

Como chegar


Download

Press release (PT)

Press release (EN)

Ensaio Crítico por Raul Mourão (PT)

Ensaio Crítico por Raul Mourão (EN)

A Carpintaria tem o prazer de apresentar FALA COISA, um diálogo entre trabalhos inéditos de Barrão (Rio de Janeiro, Brasil, 1959) e Josh Callaghan (Pennsylvania, EUA, 1969). Com curadoria de Raul Mourão, a mostra suscita pontos de contato entre cada um dos artistas, cujas assemblages têm em comum um modo de crescimento vegetal, como se objetos banais ou de uso industrial pudessem brotar e crescer a partir da aglutinação de fragmentos heterogêneos. O título da exposição, FALA COISA, sugere um passo além da fisicalidade muda do objeto de arte e situa as obras no plano de uma cena dialógica envolvendo o espectador, o artista e os objetos eles próprios. Nessa interação, as identidades ou usos pré-atribuídos de cada coisa dão lugar a um regime relacional de comunicação semelhante a uma dramaturgia objetual, ressaltando os componentes teatrais e cenográficos da obra dos dois artistas.


Tudo é o que parece

Por Raul Mourão

 

 

No jardim em frente à Carpintaria cravamos Sexta-feira (2022), a escultura vertical de Barrão em bronze fundido, resultante do empilhamento de elementos díspares: tonel/caixa de som/tronco de madeira/pote/vaso/garrafa/tubos/caveiras. Ao redor, posicionamos cinco obras da série Social Block (2022) de Josh Callaghan, tijolos de concreto construídos com o dobro do tamanho original que aqui se emprestam como bancos – o que era material da construção civil virou mobiliário urbano. No interior da galeria, esculturas de Barrão construídas a partir da reorganização de peças de cerâmica e porcelana intencionalmente quebradas dialogam com as obras de Callaghan; estojos plásticos de brocas preenchidos com gravetos de diferentes tamanhos, uma geladeira esculpida, formas de árvores concebidas no cruzamento empírico de tripés, tubos e barras de alumínio. 

Josh e Barrão são artistas da construção artesanal. Fazem tudo à mão. Sozinhos em seus estúdios, recriam e dão vida nova a objetos do mundo que já passaram pelo nosso cotidiano. Reinventam o ordinário em composições que se contaminam entre si. Escultura em busca de uma rima boa, como num repente, num rap, num partido-alto. Pedaços de coisas que são palavras. Escultura que possui uma voz, uma língua. Escultura-corpo que quer falar. Escultura-planta. A natureza das coisas. Fala sem som. Comunicação por imagens. Árvores, raízes, floresta de coisas. São coisas recombinadas de um novo jeito. Tudo é o que parece.

Como num diálogo complementar yin-yang, Josh “desenha” linhas no espaço para criar volumes enquanto Barrão decompõe objetos, levando a novos volumes e traçando um “desenho” esqueleto-estrutural com as linhas da cola que unem as partes. Os trabalhos aqui atingem um equilíbrio a partir do contraste entre os procedimentos dos dois artistas. Em Inventory of Personal Property (1993), Josh listou todas suas roupas e objetos pessoais numa folha de papel – organização de coisas que antecipa um procedimento semelhante de seu trabalho atual, no qual objetos acumulados são “catalogados” e rearranjados numa conjunção formal. Assim como na obra Sculpture Against Hunger (2022) em que Josh transforma uma geladeira numa coluna brancusiana, Barrão já usou geladeiras como elemento compositivo de seu trabalho. Em uma das suas obras mais icônicas, Barrão acoplou uma cabeça de boneca a uma garrafa de Coca-Cola (Mulher Coca-Cola, 1987), num procedimento de colagem e apropriação de coisas da vida doméstica que se repete em suas obras atuais, em que os objetos se livram de sua funcionalidade original, abrindo caminho para novas interpretações que partem do familiar do mundo para um outro mundo carregado de engenhosidade, humor e ironia. Os trabalhos de Josh também dão acesso a esse mundo.  

Conheci Josh em 1994 na abertura da exposição SP/NY, coletiva de artistas novaiorquinos com curadoria de Márcia Fortes na Galeria Camargo Vilaça. Josh Callaghan era um jovem artista de NY que foi a São Paulo para colaborar na montagem da exposição. Barrão e eu, também jovens artistas, partimos do Rio para prestigiar a inauguração em São Paulo. Vinte e oito anos depois, FALA COISA reúne obras recentes produzidas por Josh em Los Angeles e por Barrão no Rio, mas é também uma reunião de afetos. Existe um amor invisível e elétrico que nos une. Alguns chamam isso de amizade. Eu sinto que é algo maior. FALA COISA envolve a admiração que tenho por Barrão, Josh Callaghan e Márcia Fortes e pelo trabalho que vêm realizando nas últimas décadas no campo da arte. FALA COISA também é uma celebração do diálogo entre eu, artista e aqui curador, Márcia, crítica-curadora antes e agora galerista, Barrão e Josh, os artistas de sempre. Estamos felizes. Arte é afeto, arte é se deixar afetar, arte é afetar o outro. Hoje vai ter festa na Carpintaria.

 

Imagens

Vistas da exposição
Obras

Vistas da exposição

Obras

Vídeos

Notícia relacionada