Drunkenmasters
4 Jun – 3 Jul 2004
Galeria Fortes Vilaça
Angus Fairhurst | Cerith Wyn Evans | Liam Gillick
A Galeria Fortes Vilaça inaugura a exposição drunkenmasters, que reúne três influentes nomes da arte britânica da atualidade: Angus Fairhurst, Cerith Wyn Evans e Liam Gillick. A mostra integra pintura, colagem, escultura, instalação e happening.
Foi o jovem artista paulista Tiago Carneiro da Cunha quem titulou a mostra – os três artistas foram seus tutores quando ele estudava na Goldsmiths College de Londres – tomando emprestado das artes marciais o termo drunkenmasters, numa referência a um gênero de kung-fu onde o lutador faz movimentos 'bêbados' para confundir e desarmar o adversário. Apesar da aura de decadência e glamour que o termo suscita, aqui ele refere-se ao zig-zag que esses artistas costuram na trajetória de suas carreiras, recorrendo a práticas externas às artes plásticas (música, literatura, cinema) ao moldar o corpo de seu trabalho. A construção de sentidos polifônicos está no cerne da produção destes artistas, que manobram sua audiência fazendo com que ela abandone as rotas familiares para adentrar um labirinto de referências e lugares inesperados.
Mais vistos nas bienais do que nas escandalosas coletivas de New Britsh Art, estes três artistas produzem arte britânica de menor sensacionalismo e da melhor qualidade. Mestres do pensamento intelectual por detrás do alarde da produção de seus colegas, eles se desviam em um longo histórico de influências e colaborações. Wyn Evans trabalhou com o cineasta Derek Jarman, e participou de fotos e filmes da também britânica Sam Taylor-Wood. Gillick tem reputação estabelecida como escritor, autor de textos onde ele elabora sobre a própria obra, desenvolve teorias críticas sobre diversos outros artistas, analisa os ecosistemas da arte, além de publicar ficção. Fairhurst há anos colabora intensamente com Damien Hirst e Sarah Lucas, mais recentemente na mostra In-a-Gadda-da-Vidda (No Jardim do Éden) na Tate Britain. Fairhurst também formou uma banda de rock com Wyn Evans anos atrás.
Em Five Billboards, body and text removed (Cinco outdoors, texto e corpo removido), Fairhurst apresenta uma colagem do tamanho legítimo de um outdoor de rua. Ao remover elementos determinantes das imagens publicitárias originais- figuras humanas e textos – o artista abre novos espaços no plano, estabelecendo novas relações entre cultura de consumo, geometria, sexo, beleza, pintura. Fairhurst expõe também a escultura (mesa mnemônica), uma mesa de madeira que retem a memória da natureza. Do interior da mesa brotam plantas.
Has the film already started? (O filme já começou?), de Cerith Wyn Evans, é uma enigmática instalação high-tech que paradoxalmente sugere uma eclipse do sol em um ambiente plácido e natural. A imagem abstrata de um círculo branco sobre um fundo negro é projetada sobre um balão de hélio suspenso e também branco. Uma série de códigos está em jogo aqui. A imagem projetada é do filme L'Anti Concept, um marco do cinema de vanguarda europeu dos anos 50. Wyn Evans substituiu a trilha sonora original por uma composição própria, uma espécie de diário sonoro de 50 minutos que mistura Art Blakey, sons de pássaros, e uma entrevista com o artista belga Marcel Broodhathers, que usava em suas instalações nos anos 60 as mesmas palmeiras que Wyn Evans insere na composição de sua instalação. Um outro trabalho do artista acontece do lado de fora da galeria. A obra é uma crítica a situação histórica/social do Brasil nas palavras de Claude Levi Strauss apropriadas por Caetano Veloso na canção Fora da Ordem: Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína. Letra por letra do verso aparecerão brilhando em fogos de artifício do lado de fora da galeria. O acontecimento efêmero vira filme e torna-se também uma escultura de madeira onde a frase é legível mesmo depois de queimada.
Liam Gillick exibe uma pintura de parede com uma composição geométrica de cores intensas. Três esculturas suspensas de alumínio pintado entrelaçam palavras como Communes, Greenrooms, Bars , e se sobrepõem à pintura. O trabalho de Gillick busca desenvolver uma percepção do modo como materiais, estruturas e cor afetam o ambiente e geram associações. Estas obras funcionam como sistemas arquitetônicos e ideológicos, formando cenários que, fazendo largo uso do design, falam de uma forma abstrata sobre como formas e cores podem forjar uma organização social ou política.
Esta exposição tem o apoio do British Council do Brasil.