José Damasceno

Complementar

25 Jul – 29 Aug 2009


Galpão Fortes Vilaça

Após quatro anos sem expor em São Paulo, José Damasceno volta à cidade com a exposição Complementar no Galpão Fortes Vilaça. A mostra é composta por obras inéditas da série Projeto-Objeto, a escultura Complementar, também inédita e que dá título à exposição, e pela obra Satélite que fez parte da mostra Coordenadas y Apariciones no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia em Madrid, 2008. 

Os Projeto-Objetos são peças tridimensionais fixadas na parede, caixas-suportes que  utilizam sempre como substrato o papel milimetrado. Em seus interiores se passam uma sucessão de acontecimentos diversos por meio de colagens, assemblages, recortes e notações de cor, em sua maioria regidos pela idéia de jogo. Simultaneamente se apresentam questões entre problemas de escala e sistemas de representação, de forma inusitada. Damasceno discute temas próprios ao pensamento escultórico, como as relações de oposição ou complementaridade entre as formas, volumes e texturas. A utilização do papel milimetrado, material que possui tanto características técnicas ligadas à geometria como à representação de um pensamento “projetual”, é associado à elementos improváveis, gerando desdobramentos e narrativas surpreendentes a cada obra.

Muitos dos objetos dos quais Damasceno se apropria são curiosos, como a pequena escultura em mármore de uma figura feminina, qual uma personagem dos anos 1920, a melindrosa, ou então  um pequeno elefante de bronze do século XIX; ou ainda materiais como o acrílico e o feltro, que, reunidos instigam e provocam a curiosidade do espectador, dando às obras um caráter de “surpresa e mistério”. A série Projeto-Objeto, surgida em 2006, atualmente se mostra para o artista, plena em possibilidades de desenvolvimento ainda por se descobrir.

Complementar é uma obra estritamente abstrata e geométrica sem referência imediata a nenhum elemento figurativo, composta por cinqüenta e seis pastilhas brancas maciças confeccionadas pelo processo de usinagem e se utilizando do material industrial polipropileno. As pastilhas se distribuem pelo espaço ocupando tanto a parede quanto o chão. A obra discute simultaneamente conceitos de desenho, escultura e instalação, pois se relaciona com todas estas categorias e as problematiza “sendo todas e não se encaixando fixamente em nenhuma”. Por estar disposta em espaço aberto e o espectador poder circular por através da obra, ele acaba justamente por experimentá-la espacialmente como também por observar como a obra ocupa e se espraia pela parede, situando-se assim “dentro da questão e da indeterminação que ela traz”, aponta o artista. 
Complementar é o desenvolvimento de um campo de questionamentos aberto por um grupo de obras que o antecedem, Poco a Poco, 2005, A Gruta, 2006, Flotante, 2006, From another distance (Morphic flip cart ), 2006, Figura-escala, 2008 e prioritariamente o Projeto-Objeto, 2006. Contudo, a peça avança enfaticamente no espaço tridimensional reunindo questões levantadas por aquele espaço projetivo e escalar dos Projeto-Objetos e suas narrativas, somados ao aspecto do deslocamento espacial por entre os elementos.

A obra Satélite é composta por centenas de cartões postais idênticos dispostos em uma estrutura metálica como aqueles tradicionais suportes verticais para postais comumente encontrados em lojas e livrarias. Tal estrutura, entretanto, é muito mais alta do que as que usualmente nos deparamos. Essa altura impede que os cartões sejam alcançados e manuseados pelos visitantes num primeiro momento. Pode-se comprar o postal (que traz estampada a foto preta e branca de uma praia vazia onde vemos o objeto sobre a areia contra o mar e a linha do horizonte) e recebê-lo pelo correio ao final da mostra. Propõe-se uma rede de caminhos percorridos pelos postais que definem assim uma sorte de “conjunto de órbitas” em torno da obra.
 

Imagens