Marine Hugonnier
A Abelha, o Papagaio e a Onça
22 Mar – 3 May 2014
Abertura
22 Mar, 14h–18h
Galeria Fortes Vilaça
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Temos o prazer de apresentar a exposição A Abelha, o Papagaio e a Onça da artista francesa Marine Hugonnier, que retorna à São Paulo para sua segunda individual na Galeria Fortes Vilaça. A mostra apresenta um filme, fotografias e esculturas que partem da pesquisa da artista sobre maneiras de abordar o mundo animal e a natureza e os sistemas de representação que nossa sociedade criou para estes.
No filme Apicula Enigma, Marine desconstrói a linguagem corrente do “documentário de vida selvagem” ao usar recursos técnicos do cinema para se aproximar da verdade fatual da uma colmeia. Partindo de pesquisa sobre mitologias ocidentais associadas as abelhas, incluindo os livros A Vida das Abelhas (1910) de Maurice Maeterlink, Dos Animais e dos Homens de J.V Uexküll e também de obras que vão de Eadweard Muybridge e Etienne-Jules Marey às histórias infantis de Walt Disney, a artista procurou filmar o espaço entre as abelhas e a equipe de filmagem, o estar na presença das abelhas, ao invés de humanizar a sociedade apícula usando-a como uma parábola para nossa sociedade. O filme é uma maneira de procurar a exata distância em que o mundo animal ainda mantêm o seu enigma.
Hugonnier considera a figura do papagaio como a de um animal aculturado, já que tem a habilidade de falar. A ideia de poder incluir um animal no contexto público por sua capacidade de comunicação é a base para a performance que acontecerá na abertura da exposição, onde um papagaio vai interagir com os visitantes. Esta performance, que faz referência a Marcel Broodthaers, anuncia seu próximo filme, The Parrot Case (O caso do Papagaio), adaptação da história real sobre um papagaio que presenciou um assassinato e depois foi usado como testemunha chave no julgamento.
Na mostra, a artista faz uma intervenção em três objetos carimbando-os com as palavras “Union Pour La Cinegenie”(União pela Cinegenia). Esta união é um grupo informal criado por Hugonnier e Manon De Boer, com o propósito de definir a palavra inventada “cinegenia”. Estes três trabalhos – uma gravura do século XVIII, um livro-colagem e um anúncio antigo do carro Jaguar – são exemplos que podem definir esta qualidade especial, “La Cinegenia”, ou podem ser considerados por suas qualidades cinemáticas.
A terceira parte da exposição é baseada na pesquisa e conceitos delineados por Eduardo Viveiros de Castro: a perspectiva ameríndia em que existe somente uma humanidade da qual os animais também fazem parte. A noção ameríndia expande assim a ideia de subjetividade para uma não diferenciação entre humanos e animais. Dentro desta diferente concepção ontológica, a realidade e o ponto de vista de um animal, como a onça, pode ser apreendida e compartilhada. Ter uma outra perspectiva da mesma realidade é um dos intuitos dos rituais xamânicos praticados pelos povos habitantes da região amazônica. Neste contexto, a artista apresenta a série de esculturas abstratas Anima, que são objetos móveis. O título faz referência às palavras: alma ou espírito ou psyche (tradução grega). Estas obras estão posicionadas em bases espelhadas nas quais o reflexo agrupa o espectador, seu entorno e a escultura em si, criando um único corpo.
Em Anima(L), a escultura abstrata Anima é acompanhada pela fotografia de um animal criando assim uma nova relação. Estes trabalhos falam do desejo de subjetificar objetos e são a reinterpretação da ideia de animismo no nosso mundo contemporâneo. Ao lado destes, a artista intervêm com folhas de ouro em uma escultura “ready made” que representa um xamã virando uma onça. Dois grandes luminogramas compõem a exposição, os trabalhos feitos em papel fotossensível são a emanação do calor e elementos presentes no ambiente, resultando em imagens quase monocromáticas.
Esta exposição considera diferentes tipos de concepções ontológicas sobre humanos e animais e assim questiona dicotomias tradicionais modernas: a divisão entre Natureza e Cultura, Sujeito e Objeto e os modos de produção e troca que estes sistemas de pensamento implicam.
Marine Hugonnier nasceu em Paris, França em 1969 e vive e trabalha em Londres. Entre suas recentes exposições individuais podemos destacar: Chateau D’Angers, França (2014); Sainsbury Centre for Visual Arts, Norwich, UK (2013); FRAC Champagne-Ardenne, Reims, França (2009); Malmö Konsthall, Suécia (2009); Kunstverein Braunschweig, Alemanha (2009); Musée D’Art Moderne et Contemporain MAMCO, Geneva, Suiça (2008); S.M.A.K. Stedelijk Museum voor Actuele Kunst, Gent, Bélgica (2007); Philadelphia Museum of Art, Philadelphia, EUA (2007). Sua obra está presente em importantes coleções como: Thyssen-Bornemisza Contemporary Art Foundation, Viena; National Gallery of Art, Washington DC; Musée d’art Moderne de la Ville de Paris; MOMA, New York; MACBA, Barcelona; Jumex Collection, Cidade do México; Reina Sofia, Madrid; Instituto Inhotim, Brumadinho; entre outros.