José Damasceno

Contato

23 Sep – 18 Oct 2003


Galeria Fortes Vilaça

A Galeria Fortes Vilaça tem o prazer de apresentar “Contato”, a quarta exposição individual de José Damasceno em São Paulo. Dois anos após expor no Centro Cultural São Paulo, quando apresentou uma instalação composta de adesivos para correspondência (“confidencial” e “urgente”), o artista carioca retorna com uma exposição híbrida onde a princípio as sete obras apresentadas parecem destoar uma das outras, porém acabam por revelar o traço comum de seu estilo particular.

“Contato” é prioritariamente uma exposição de esculturas, com marcada ênfase sobre os conceitos que norteiam o uso dos materiais mais diversos. Questões tradicionais da escultura, como volume, textura, matéria, estão integradas de forma intrínseca ao raciocínio do artista. Outras questões também íntimas a escultura, como o exercício empírico, não aparentam ser de primeira ordem. Guiado por referências surrealistas, Damasceno apresenta esculturas de notável complexidade conceitual que demonstram a força e a vitalidade do seu pensamento artístico.

Em “Fatia Abstrata”, o artista constrói uma interpretação tridimensional e absurdista do desenho de um típico gráfico estatístico, que demarca as percentagens de uma dita pesquisa com fatias coloridas em um círculo. Na obra, as ‘fatias estatísticas” de distintas cores, tamanhos e ângulos, perpassam umas as outras, formando um volume virtual resultante do emaranhado de linhas no espaço. Na parede da galeria, o artista apresenta uma obra análoga,“Secção da Paisagem”, onde centenas de números colados sobre a superfície formam uma espécie de paisagem selvagem. Vislumbra-se o diálogo que ocorre entre “Fatia Abstrata” e “Secção”.

“Peça para Máquina de Tração Imaginária”, uma escultura resultante da junção de diversas peças mecânicas soldadas para formar uma nova peça industrial fictícia, traz o veio surrealista impregnado pelo sentido do absurdo. Em “Interface”, parafusos se entrecruzam através de uma chapa de acrílico. Em “Contato”, uma lente de apoio a joalheiros torna-se uma criatura que observa a si mesma em uma fotografia de si mesma em um lugar diferente observando-se em uma fotografia de si mesma em outro lugar diferente e assim por diante, um deslocamento em cadeia.

Em um momento na história da arte onde todos os possíveis procedimentos artísticos apresentam-se explicados e justificados, Damasceno opta por um modus-operandi difuso. Nesta mostra, ele parece estar interessado em alcançar uma zona, um campo significante onde os significados não sejam tão óbvios. Perante estas obras o espectador vê-se pensando que existe um sentido para aquilo, porém o sentido lhe escapa. “Contato” estabelece um contato com o que não se sabe ao certo, com novos pontos de vista, novas coordenadas, e novas vibrações mentais.

Este ano, José Damasceno fez exposição individual na galeria The Project, e participou da coletiva “Living Inside The Grid”, no New Museum of Contemporary Art, em Nova York. O artista prepara uma instalação para a parede monumental do Museum of Contemporary Art de Chicago, que permanecerá exposta por um ano após sua inauguração em novembro próximo.

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